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Nossa, mas com você ela é outra criança!

criança
Imagem Shutterstock

Se tem coisa que me irrita dentro da maternidade, além é claro de darem qualquer tipo de comida pra minha filha sem me consultar antes (pausa pra gargalhadas e quem me conhece sabe que são verdadeiras) são as famosas pessoas sem noção que adoram falar: – Nossa, mas com você, ela é outra criança!

Caraleeeeeo, sério! Porque as pessoas têm o maior prazer em jogar na sua cara que por “n” motivos sua, vejam bem SUA CRIA, é de um jeito com você e de outro com eles? Porque “diacho” a criança tem que ser a mesma criança em todos os ambientes, ou melhor, porque isso que é o correto? Vem cá, esses adultos não tiveram filhos ou foram crianças e agiam iguais? Quem foi que disse que criança tem que ser sempre santinha? Porque será que adoram repetir que com você ela é outra criança?

Percebo que os outros, de modo geral, ficam sempre procurando defeito na maternagem do outro, na criação das crianças e até mesmo nelas. Parece que o prazer em colocar as pessoas pra baixo é maior do que ser amável ou no mínimo calado! Muitas podem não falar por mal, e realmente acredito nisso, mas por favor, mais amor e menos dedo apontado, não é?

Eu, misera mortal, mãe de uma única menina, a Clara, acredito que muitos fatores podem colaborar para as crianças mudarem quando estão com os pais. E, querem saber? Não sei julgar se é errado, nocivo ou certo.

Vou falar o que acontece aqui em casa: Clara é super apegada comigo, vivi meus 5 meses e meio de licença maternidade praticamente todo focado nela. Amamentava em livre demanda olhando em seus olhinhos enquanto ela me olhava com um olhar apaixonado e suas mãozinhas ficavam entre meus seios e segurando minha correntinha. Sempre dei colo quando solicitado, no primeiro resmunguinho no berço. Sentava e deitava no chão pra brincar com ela, contava histórias, cantava e etc. Aos 5 meses e meio, ela foi para o berçário e lá ficava por 8 horas e meia. Sem minha presença, sem consolo artificial (chupeta ou mamadeira) e sim com os profissionais da escola que escolhi (e amo). Quando nos reencontrávamos, era colo, muito mamá, mais colo e cama compartilhada.

Eu sempre trabalhei fora e muito, digamos que em um ritmo mais que frenético. Até ela completar 11 meses, eu trabalhava inclusive aos fins de semana, ou seja, tinha apenas 1 único dia inteiro pra ficar com ela e neste dia, ela só queria a mim.

Ela cresceu, com 2 anos, começou a ficar mais tempo na escola (infelizmente). Mudei de emprego e de 8 horas e meia, começou a ficar quase 10-11 horas. Em alguns dias, pra falar a verdade, a maioria, meus pais a buscavam e ela ficava na casa deles até eu chegar do trabalho e aí começavam as formas dela chamar minha atenção, e com isso, as frases: – É só sua mãe chegar que você muda!

Com 3 anos, eu a buscava na escola, mas ela ficava as mesmas quase 10 – 11 horas por lá, mas na volta pra casa, sempre era tudo tranquilo, sem estresses diários, só em alguns momentos. Mas este ano, meus pais a estão buscando, e até mesmo nas férias longas de dezembro/janeiro, estou escutando constantemente isso e por mais que eu fale sempre que é saudades, não adianta.

Nós, pais, precisamos aprender a entender os sinais que os pequenos nos dão. Eles demonstram com choro, birra, gritos. Isso pode ser a única forma em que você vai parar o que está fazendo, olhar nos olhos deles e perguntar o que foi ou então oferecer aconchego. Pode ser manha? Não sei! Na realidade não sei se manha existe, mesmo tantos profissionais afirmando que sim.

Eu sei o que acontece na minha casa, com a minha filha e, por mais que ela faça shows típicos da idade em alguns momentos, sei que são pra eu parar e dar a atenção que não posso dar durante a semana inteira. Ela quer que eu sente no chão e brinque com ela, quer que eu deite do lado dela em sua cama enquanto ela toma seu leite ou suco, quer que eu leia um livro de história pra ela, quer que eu simplesmente dê colo.

Porque ela com 3 anos tem que entender que eu trabalhei o dia todo, a semana inteira, tive problemas no trabalho e quero ficar sozinha, quieta ou preciso chegar em casa, limpar, cozinhar, lavar e passar? Gente, são 3 anos contra 36 de vida! quem tem que ser inteligente e usar a sabedoria unidos ao amor?

É cansativo? Putz! Muito … Mas vem cá, quis ser mãe, não é? Meu marido quis ser pai, não é? Então precisamos assumir o papel de pais, adultos que somos e encontrarmos dentro da nossa casa a melhor forma de administrar tudo isso.

Mas, Paola, e com o pai ela é igual? Não, gente! Ele também em muitos momentos fala que comigo ela muda, para meu desespero e total irritação, confesso! Poxa! Será que eu só erro? Não, não erro somente! Nunca ninguém vai conseguir me convencer que colo estraga, carinho prejudica e que atenção e amor mima. Eu educo a Clara, explico as coisas, diferencio o certo do errado e ela entende dentro de sua idade.

É sempre muito comum as crianças serem super quietinhas e “santas” na escola, comerem tudo, inclusive os verdinhos e todo o arco íris. Será que estamos errando e todo o resto é quem sabe educar e lidar com nossas crias? Ou será que estamos ficando longe ou perto tempo demais e isso interfere?

Perguntei para uma Psicóloga, a  Priscilla T. Brandeker, se esse lance de “nossa, mas com você ela é outra criança” é realmente verdade, ou melhor, se tem algum fundo “científico”. Olhem só:

Bom Paola, o que posso te dizer em primeiro lugar, além que é preciso respirar fundo e manter a calma (mas isso você já sabe, então não preciso repetir), é que a relação mãe-bebê é a mais intensa e primordial para o bom funcionamento psíquico de todos nós. É completamente normal que a criança tenha comportamentos diferenciados quando estão com outras pessoas ou em outros lugares, pois ali ela não precisa testar, ela não precisa se preocupar se vão gostar ou não do que ela faz e ela deixa livremente as coisas darem seu rumo, chegando até mesmo a comer coisas inimagináveis pelas mães (como você mesma falou). Com a mãe, a criança que está ali acostumada com todo chamego, carinho, mimo e atenção, ela tem uma relação de causa e efeito, de ação e reação e principalmente de testagem de ambiente. Ela se sente a “poderosa”, pelo menos para a mãe, mesmo quando ouve muitos nãos pelo caminho, então, quando ela não está sob o olhar da mãe, ela não precisa atuar, pois ela não precisa ou não faz tanta questão, de conquistar com tanto afinco o carinho, o amor e a dedicação das outras pessoas.

Sim, ela fará a tal da birra para mostrar que sentiu a sua falta, ou então não comerá o alimento x ou y, para mostrar que tem vontade própria ou então ficará brava ou irritada com alguma coisa, para demonstrar que ainda depende de você, que não é “madura” suficiente para fazer algo sozinha e simplesmente para continuar recebendo ainda mais atenção, mimo e carinho da própria mãe, e não o contrário, entende? Bom, espero ter ajudado um pouquinho. Não sinta ciúmes nem raiva quando as pessoas falarem, apenas diga: “nós nos entendemos à nossa forma, seja à sós ou daqui a pouco….vocês saberão quando forem pais ou mães”. E pronto, seja feliz sem culpas! Beijo grande!! Priscilla T. Brandeker (Psicóloga CRP 06/123945)

Viram só? É normal, na realidade não é uma questão de ser normal ou não e sim um vinculo que é criado entre nós e as crias e somente nós, pais, é que vamos saber como lidar , conversar e entender tudo isso. Crianças possuem formas de chamarem atenção que muitas vezes desagradam quem está em volta, pois pode vir com um choro, birra, necessidade de colo. Sabemos que muitos adoram apontar o dedo e dizer que seus filhos não fazem isso e aquilo ou então os mais velhos, esqueceram como eram seus filhos quando pequenos. Eu, Paola, tento sempre entender os motivos de algo “anormal” da Clara, sento no chão, olho nos olhos e tento fazê-la entender que estou aqui, pra ajudá-la, dou colo e assim, tudo se resolve!

Como é por aí?

Beijos

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