Velha Infância e os tempos atuais

Oi gente, tudo bem?

Antes de eu ser mãe ou até mesmo engravidar, eu achava o maior barato ver as crianças super tecnológicas, imaginava que meu filho teria que ter todas as coleções de bonequinhos e se fosse menina ter todas as Barbies e os itens pra montar a casinha pra ela brincar.

Já imaginava que tinha que ter um super mega quarto, cheio de brinquedos e sempre tudo muito, muito e muito.

Hoje, sendo mãe, mesmo que de uma bebê de quase 9 meses eu penso totalmente diferente e comecei a ficar preocupada em como vai ser a infância da Clara.

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Eu cresci no meio de primos e primas, brinquei em quintal, subi em árvore, sujei as mãos, pés, cabelo de tinta guache, andei de skate, brinquei de casinha, passei dias inteiros montando a casa da Barbie no meu quarto inteiro e quando terminava de montar já estava cansada.
Viajava pra casa da minha Avó no interior e subia no pé de jabuticaba pra comer a fruta no pé, ia pra casa da outra Avó na praia e ficava horas no mar, fiz castelos na areia. Li livros, tinha coleções e coleções de livros.

E hoje, vejo tudo tão tecnológico que tenho medo das brincadeiras de roda, amarelinha, esconde-esconde, corre-cotia não fazer parte da infância da Clara.

Antigamente, programa pra criança na televisão era o Castelo Ratibum, Glub Glub, Viagem ao Mundo da Lua e hoje são tantos desenhos que perdi a conta da variedade, mas percebi que tem muito intervalo e a cada intervalo as propagandas excitando o consumismo é exagerada.

Não, não estou aqui falando de consumismo e sim de infância e a construção dela, em como nós pais podemos ajudar nesta construção.

Será que precisamos dar tudo pronto pra criança? Tudo que é produto tecnológico ou brinquedo pronto? Cadê os quebras cabeças e brinquedos educativos? Pouco vejo nas grandes lojas de brinquedo, mas sim, já vi algumas lojas específicas.

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Acredito eu, ou melhor, tenho convicção de que temos que dar ingredientes pras crianças construírem e criarem seu mundo infantil.

Semana passada, no evento da Baby.com.br (relembre aqui)  tive o prazer de ver uma Palestra do Educador Marcelo Cunha Bueno e a palestra era: “A POESIA DA INFÂNCIA: TEMPO E ESPAÇO DA EXPERIÊNCIA“.

Nesta palestra ele explicou vários pontos importantes que não quero errar/pecar com a Clara.

Já vi situações de uma criança de 6 anos, estudar em um excelente colégio de São Paulo já fazer reforço escolar à tarde, ter que ficar estudando horas durante o dia, ter horário pra tudo e aos sábados fazer aulas de inglês, natação. A própria criança fala pros pais:

– Eu só sou uma “cliança”, posso “blincá”???

Assim, respeito todas as escolhas e diferenças, mas não é demais uma criança de 6 anos não ter vida de criança?
Será que precisa de tudo isso já no começo da infância?
Quando essa criança poderá brincar, se sujar, subir em árvores? Ok, não vamos ser tão radicais, quando ela vai poder jogar videogame ou brincar com os apps do tablet?

Concordo que tem que ter responsabilidades e que temos que ensinar valores e etc, mas a responsabilidade de uma criança não é brincar e aproveitar a infância?



Na Palestra, Marcelo falou que a infância é construída com diversos discursos:

 DISCUR
SO PEDAGÓGICO: Cria a criança temporal, as atividades da infância, os cuidadores de crianças. 

DISCURSO ECONÔMICO: Cria a criança do consumo, os produtos para a infância, os programas infantis. 
DISCURSO SOCIAL: Cria a criança feliz, saudável, com direitos e deveres, membro da consolidação da família. 
DISCURSO PSICOLÓGICO: Cria as fases de desenvolvimento das crianças, os transtornos infantis, suas causas, seus efeitos e seus tratamentos.

Fonte: Marcelo Cunha Bueno

Um dos problemas da gente ajudar e a colaborar com a construção da infância de nossos filhos é algo tão precioso, mas que pouco damos valor, o TEMPO.

Nós damos desculpa pra tudo por causa da falta de tempo. Não telefonamos pros melhores amigos ou visitamos quem estamos com saudades por falta de tempo. Nasceu o bebê de uma amiga, vai fazer 1 ano e você ainda não conhece? Claro! Cadê tempo pra isso?

E com nossos filhos, o tempo também falta, pois a maioria das famílias os pais trabalham e ocupam a maior parte do dia no emprego. Muitos quando chegam em casa encontram os filhos dormindo ou estão cansados.
Por favor, não estou aqui julgando quem trabalha ou não e sim manifestando uma preocupação minha com a colaboração na criação da infância e vida da minha filha.

Olha que bacana o que Marcelo fala sobre os tipos de Tempo:

E como é possível viver a experiência nos tempos que correm? As relações temporais na infância: chrónos, kairós e aión 

CHRÓNOS 

A criança com hora para acabar. Classificada por fases. Vida em sequencia de acontecimentos. “É um limite entre o que já foi e não é mais (passado) e o que ainda não foi, portanto também não é, mas será (o futuro)”. Walter Kohan 

KAIRÓS 

O momento da oportunidade. O designo do destino. A junção entre o fato e a possibilidade. 

AIÓN

O tempo da intensidade. O tempo sem duração. Um espaço entre. O instante. A experiência. O não mensurável, o não numerável da infância. O reino da criança. 
E não seria Aión a possibilidade de vivermos as intensidades da infância nos tempos de adulto? 

Fonte: Marcelo Cunha Bueno


Qual tempo você quer ter e usufruir junto com sua família?
Pra mim, vale muito a pena eu dedicar meu tempo, sem pressa pra Clara. Vê-la se desenvolver, mudar diariamente, aprender uma coisa nova a cada dia é mágico demais.
Falta de tempo, cansaço ou trabalho não me impede de estar lá, sempre ao lado dela.

E pra finalizar a Palestra e exemplificar o Tempo Aión, ele leu uma linda Poesia do Manoel de Barros:

 “Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. Mas o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa …Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros de infância. Vou meio dementado e enxada às costas a cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.” 

Fo
nte: Marcelo Cunha Bueno

Estes slides foram os que ele usou na Palestra que falei. 

 

Vocês se preocupam com a infância dos filhos?

O que é mais importante pra eles na opinião de vocês?
Beijos


Gostaria de agradecer a colaboração e boa vontade do Marcelo Cunha Bueno em ter fornecido o material de sua palestra pra eu poder colocar aqui no post.
Marcelo, muito obrigada!

Fonte das imagens: 1 2 e 3 


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