Meu cabelo é encaracolado, assim como o da Clara. Ele é fino, tem raiz mais lisa e no comprimento cacheado/ondulado. Já vivi várias fases da tal ditadura da moda, onde me parecia não ter tanto espaço para meus cachos, além do fato de eu nunca ter sabido arrumá-los e isso era o que mais me deixava brava. Fiz várias químicas para que eu conseguisse arrumá-lo mais fácil e sempre escová-los era o mais prático, que assim, fazia. Sim, já me incomodei com eles no passado, hoje não mais. Digamos que eu os amo mais ainda por causa do cabelo da Clara, que particularmente eu acho lindo e aprendi como arrumá-lo. Mas um dia, ao penteá-la no fim do dia, com um biquinho cheio de ressentimento eu escutei uma frase que nunca queria ter ouvido: mamãe, falaram que meu cabelo é esquisito. E eu fiquei triste.
Sem exitar respondi que não, não era esquisito e já perguntei o motivo de tal pergunta. Ela, quase chorando me disse que tinham dito pra ela, uma menina de quase 4 anos, que seu cabelo era esquisito na frente. Sério, ouvir e ver sua tristeza porque falaram que seu cabelo é esquisito partiu meu coração.
Depois da rápida resposta, ainda enquanto a abraçava, por alguns segundos fiquei muda. Não sabia se me interessava saber quem tinha dito ou se era a hora de eu mostrar para minha cria, uma menina de 4 anos como a vida lá fora pode ser difícil, e que independente de nossas diferenças, somos todos merecedores de respeito, somos todos iguais e que não é o cabelo, cor de pele, escolhas que dá o direito do outro nos ofender, rebaixar, discriminar.
Bom, isso aconteceu no primeiro semestre, antes do aniversário de 4 anos da Clara. Na época, usei seus personagens preferidos, tantos os de desenho, quanto os dos livros de história pra mostrar que somos diferentes uns dos outros. Mostrei que em nossa família, cada pessoa tem o cabelo de um tipo, de uma cor e de um tamanho. E ela sempre mostrando entender, mas mesmo escutando atentamente todos os exemplos que eu dava, ela ainda perguntava: – mamãe, meu cabelo é esquisito? Perguntou pra mim, pra minha mãe, pro Marido, pra minha irmã …. Ficou uma semana perguntando pra todos ao seu redor.
Depois de tantas perguntas, algum tempo reparando as diferenças, ela chegou em um belo dia e disse que queria ir de Valente em sua festa de aniversário, pois a Valente era super corajosa, lutava com o urso pra defender sua mamãe e tinha o cabelo lindo como o dela. Na hora, me bateu aquele orgulho, sabem? Ela tinha entendido as diferenças, estava forte e decidida de suas escolhas. Estava encantada com seus cachos novamente. Sim! O cabelo dela pra ela sempre foi motivo de suspiros e orgulhos e isso sempre foi dela, não foi algo passado pra ela, entendem? Ela sempre amou mexer em seus cabelos, vê-los soltos, com penteados.
Fazia parte do ritual sair do banho, pentearmos seus cabelos e ela correr pro espelho se ver, ver como tinha ficado seus cabelos. Sim, ela é vaidosa por si só, é algo dela.
Este post começou a ser escrito dia 30 de junho, logo quando aconteceu toda esta história. Durante este tempo todo, pensei em não publicá-lo. Achei que esse lance do cabelo tinha sido resolvido, bem resolvido pra ela.
Relembre: É preciso mudar para termos um mundo melhor
Porém, quando ela estava com 4 anos e 4 meses, enquanto escovávamos os dentes e penteávamos nossos cabelos depois do banho, eu disse que o cabelo dela estava lindo e ela retrucou: que bom que você acha ele bonito, pois falaram que ele é feio e esquisito.
Gelei! Sério, eu fiquei congelada! Falaram quem, Clara? Todo mundo, mamãe! Meu cabelo não é bonito! E passava a mãozinha na frente de seu cabelo, onde sim, é mais cacheado, pois são os cabelos que estão crescendo e ainda não tem o peso do cacho. Eu a abracei e disse: Seu cabelo é lindo, filha, e não importa o que falem, você tem que achar seu cabelo lindo. Isso é o mais importante.
Por aqui, estamos sempre conversando com ela sobre as diferenças, sobre a auto aceitação, sobre como devemos respeitar o próximo e jamais falar coisas assim, pois pode machucar a outra pessoa e isso não é legal. Agora parece que ela se apaixonou novamente pelo seu cabelo, está com ele todo esvoaçante por aí. Solto, com penteados e sempre com sorriso no rosto.
Este ano, já com quase 5 anos, ao assistir Moana, em meio ao cinema lotado, ela grita: – Mamãe, o cabelo da Moana é igual ao meu!!!! A cor do olho também!!!! E eu adoro correr, fazer aventuras igual ela, mamãe!!! Sim, pode parecer a maior besteira, mas na hora, eu senti o maior orgulho em ela perceber e reconhecer que todos são iguais, mesmo que diferentes.
É, minha cria. O mundo não é fácil, sempre te avisei. Mas da mesma forma que sempre te orientei e oriento, saiba que estarei aqui, todas as vezes que precisar entender algo, para te dar colo e claro, para te ensinar cada vez mais a respeitar o próximo e todas as diferenças que temos uns dos outros.
Beijos.
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